Discurso verde de Dilma não convence ambientalistas
Sobre Mudanças Climáticas, em Copenhague, a virtual candidata petista à sucessão no Palácio do Planalto, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que vem esverdeando seu discurso com vistas a 2010, assumiu de vez a causa da defesa do meio ambiente. Ela vem declarando que sempre brigou pelo uso de combustíveis renováveis e que é defensora de uma política de desenvolvimento sustentável por meio da expansão da geração hidrelétrica brasileira. A mudança de discurso, entretanto, ainda não convenceu os ambientalistas.
Na avaliação de especialistas consultados pela Agência Estado, Dilma tem vislumbrado na defesa do meio ambiente apenas uma oportunidade de colher dividendos eleitorais. Os ambientalistas apontam que a ministra ainda não conseguiu dissociar sua imagem pública do imbróglio político que culminou na saída da senadora Marina Silva (PV-AC) do Ministério do Meio Ambiente. As duas entraram mais de uma vez em divergência por conta da concessão de licenças ambientais para a realização de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como as usinas do Rio Madeira. Marina deixou a pasta em 2008, depois de se sentir desautorizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que repassou o comando do Plano da Amazônia Sustentável para o então ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. Desde então, Dilma ficou conhecida como a gerente do PAC.
Para o coordenador de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Jacobi, as últimas declarações de Dilma não têm sido "muito convincentes", uma vez que o governo do presidente Lula costuma adotar posições ambíguas em temas ambientais. "De um lado, o governo se mostra como defensor do meio ambiente em conferências e debates internacionais. De outro, não age com punho firme, dentro do País, na adoção de políticas que defendam o uso de energias renováveis", critica Jacobi.
O especialista afirma que a ministra nunca demonstrou de "forma explícita" sua preocupação ambiental e ressalta que o tema tem sido tratado pelo governo federal como "vitrine pública". "Não adianta ficar apenas no discurso", critica. Jacobi afirma ainda que a Conferência de Copenhague e a entrada da senadora Marina na disputa ao Palácio do Planalto têm obrigado os prováveis candidatos à Presidência da República a abordar o tema ambiental, "mesmo que não carreguem essa bandeira". "Todos os candidatos vão ter de dizer que defendem o meio ambiente, isso é inegável. É um dos temas de maior relevância na atualidade", sustenta.
O ex-secretário de Meio Ambiente da Presidência da República e do Estado de São Paulo José Goldemberg afirma não ter dúvida de que o esforço do Palácio do Planalto para familiarizar a ministra Dilma com a temática ambiental "tem cara eleitoral". De acordo com ele, a posição do governo federal "até três meses atrás" ainda era bastante obscura em relação à adoção de políticas públicas de desenvolvimento sustentável. "Todo esse esforço da Dilma tem cara eleitoral, uma vez que a ministra era caracterizada como a gerentona do PAC", afirma. "Com a presença da Dilma, Serra e Marina no encontro da ONU, sem dúvida que Copenhague vai ser um dos palcos das eleições de 2010."
Para o diretor-adjunto da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, Peter May, é conveniente para a ministra adotar um "tom verde" às vésperas das eleições de 2010. "É um momento muito favorável para ela se envolver nessas questões, mesmo tendo tido uma postura desfavorável em relação ao meio ambiente como ministra-chefe da Casa Civil", afirma. O ambientalista espera que a aparente mudança da ministra no tocante ao meio ambiente gere ações substanciais do governo. "O que se espera é que a ministra desista de alguns projetos de construção de hidrelétricas na Amazônia, por exemplo, e passe a adotar uma agenda ambiental", afirma.
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